Carta ao Governador Dante de Oliveira




SONHO DE UM JARDIM                                                                                               

Cuiabá, 28 de dezembro de 2001.


Senhor governador Dante de Oliveira,

Através desta, quero registrar minha sugestão referente às obras a serem implementadas no Parque Mãe Bonifácia. 

Tomei conhecimento, por meio dos jornais, de que lá serão construídas quadras de esportes. Por que não fazer um jardim, ao invés de quadras? A construção dessas quadras pode ser transferida para outras áreas da cidade, onde, certamente, há mais necessidade delas. Um belo jardim não existe em Cuiabá, a não ser nas residências das elites que aqui vivem. 

O jardim vai estar mais em sintonia e harmonia com o parque, que predispõe ao silêncio, à contemplação e à meditação.

Fui caminhar lá.  Imaginei as pessoas, do alto do mirante, contemplando a beleza desse jardim, que visualizei nos moldes de um que visitei na cidade de Nova Délhi, no qual existe um lindo templo dedicado à paz – o Templo de Lótus.  A sensação que tive foi tão boa! Por alguns instantes, foi como se um pedacinho da Índia, esse país que tanto amo, tivesse sido transportado para o  Parque Mãe Bonifácia.

Aliás, sempre que ando pelas suas trilhas e atravesso aquelas pequenas pontes e, principalmente, quando desfruto e comungo com o silêncio, a beleza e uma certa magia que sinto suspensa no ar daquele local, lembro-me da semelhança existente com o famoso parque de um dos ashrams onde estudei naquele país. Tão bonito é o parque, que se tornou, tal qual o nosso Mãe Bonifácia, uma das atrações turísticas de Poona.

Entretanto há uma diferença entre eles, o de lá foi idealizado e concretizado como um presente dos discípulos ao Mestre e à sua gente. O daqui, uma iniciativa do atual governo deste Estado, que ofertou esta obra ao povo cuiabano.

Tenho certeza de que, assim como eu, muita gente irá preferir o jardim às quadras. Deixemo-las para os clubes, praças, escolas e onde mais se fizerem prioritárias.  Ainda está em tempo de mudar o projeto! Espero que V. Exª, na qualidade de amigo número um do parque, como todos nós sabemos, reflita seriamente sobre esta ideia. Seria como um oásis em Cuiabá, um imenso gramado bem verde e bem cuidado, cheio de flores amarelas, vermelhas, brancas... Um presente ao parque, aos seus amigos e a todos os seus visitantes.  Um culto à paz e à contemplação, bem de acordo com o que lá  buscam as pessoas que o frequentam.

A energia do local vai ficar ainda melhor se, no lugar de concreto e barras de ferro, forem semeadas naquela terra sementes de lírios, orquídeas, margaridas, amores-perfeitos, cravos, rosas...

Então, num futuro próximo, os avós passearão com seus netos por esse jardim e poderão mostrar-lhes que cada flor, assim como nós, tem sua beleza única, seja ela uma rosa vermelha ou um amor-perfeito. Que cada expressão que floresce tem a sua radiância e a sua própria fragrância. 

E eu, também já avó, levaria o meu pequeno tesouro para que ele visse, com seus lindos olhos azuis, que o cravo e a rosa deixaram de brigar e entraram em comunhão. 

Desejo a todos que neste momento estão lendo esta carta que, no Ano Novo, as pedras que machucam e ferem os nossos pés sejam substituídas pela maciez da grama coberta pelo colorido, suavidade  e beleza das flores.

Benedita Enildes de Campos Corrêa

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