Vidas ausentes

                                               
A convivência com os meus netos tem me propiciado vários e interessantes momentos de reflexão. Quem resiste à beleza que se irradia da face de uma criança sorrindo, do brilho de seus olhos inocentes? Um espetáculo que muitas mães e pais perdem, pois o ritmo de vida do homem moderno não deixa tempo nem abertura para preciosas paradas e observações no dia a dia.

Pai e mãe, normalmente, se não estão no trabalho, estão em casa às voltas com os afazeres domésticos ou envolvidos com a programação da TV, conectados com o celular, computador etc. Exauridos, após uma jornada de oito horas de trabalho, muitos não têm vitalidade para estarem, de fato, com os filhos.

Assiduamente, chegam em seus lares tensos, preocupados com o que ficou para trás ou com os afazeres do  dia de amanhã. O corpo está lá, mas há ausência da própria presença nesse corpo. Enquanto isso, o momento passa, posto de lado sem ser vivenciado, sem ser tocado, sem ser apreciado...

Atualmente, a internet e as redes sociais atraem a atenção das pessoas em demasia, criando novos tipos de comportamentos e de conexões. Muitas jovens mães amamentam seus filhos (entre as que amamentam) falando ao celular... Nessas condições, a amamentação, um dos atos mais belos e amorosos entre mãe e filho, esvazia-se da  presença significativa da mãe com seu bebê.

E momento perdido, jamais voltará outra vez - nas marchas do tempo, não há marcha à ré. Todavia, a Existência é generosa e dá a oportunidade de um novo dia para o nosso despertar, para estarmos presentes em cada momento e atendermos aos chamados da vida através dos diferentes papéis que desempenhamos ao longo da nossa trajetória existencial. 

Se as pessoas não olhassem de modo exagerado para o mundo externo, haveria menos desperdício de tempo e de atenção naquilo que é inútil, trivial, não-essencial à qualidade da nossa existência.

Por outro lado, se reservassem certo tempo para vivenciarem a descoberta dos tesouros da vida interior, com interesse no mistério do universo, do infinito, do ser, o cotidiano seria preenchido e colorido por presenças que “esticam horizontes” onde quer que elas estejam, ao invés de ausências que acinzentam e esvaziam o sentido de cada dia. 

ENILDES CORRÊA é Administradora, terapeuta corporal e professora de Yoga. Autora do livro “Vida em Palavras”.

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