"Não imponha condições à vida. Impor condições à vida é feio, violento, estúpido. Permaneça incondicionalmente aberto. Seguir a vida é ser religioso."
Osho
[...] "Outras vezes ouço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido."
Tenho estado a observá-las, todos os dias, diante da minha janela. Quando o vento muda seus sopros, de suaves e gentis para fortes e tempestuosos, elas se deixam embalar da mesma forma, apenas mudam a velocidade e a intensidade do balanço, porém sem perderem o compasso, qual um casal de bailarinos ajustados e sintonizados com a música, entre si e com seus próprios corpos. As folhas se entrelaçam e se apoiam reciprocamente. E aí, parece que formam uma comunidade unida e solidária, na qual seus membros ajudam uns aos outros a atravessarem um momento de perigo que ameaça a sobrevivência de todos.
Tamanha entrega
ao vento – seja qual for o tipo de sopro que as balança –
faz-me sentir, de vez em quando, tão pequena diante delas, que despertam
em mim uma ponta de inveja dessa
flexibilidade, que lhes dá a capacidade de dançarem ao som do vento com tamanha
destreza e beleza. Nunca oferecem resistência, nem ao movimento, nem às
paradas. A elas, parece muito fácil aceitar o movimento das mudanças, diferentemente
de nós, humanos...
Ao vento forte,
suas folhas se dobram.
Ao vento leve,
garbosas se revelam.
E quando o vento
para de soprar, não reclamam.
Tão majestosas quanto antes,
permanecem quietas e silenciosas, sem nenhuma tensão, ansiedade ou angústia.
Reflito o quanto
tenho a aprender com as folhas do coqueiro que vejo à minha frente daqui da
minha janela. A qualidade que nelas admiro reporta-me ao meu pai. Ele também
se curvou para a vida, como as folhas de um coqueiro. E é dele, um homem simples do campo, que saíram estas palavras, as quais já ouvi de grandes mestres
espirituais, naturalmente, em outra linguagem, porém com o
mesmo sentido: “Eu sou um badalo perdido dentro de um polaco. A pessoa é
quem escolhe para onde ele vai. Você toca de um lado e, de outro, ele faz a
‘zoeira’. Parou, ele para e fica no silêncio”.
É a você, meu pai, que dedico este texto.
Você, que deu
aos seus filhos a mais valiosa das heranças, a da Consciência, transmitida
através da sua presença pacífica e amorosa, da sua coragem e honestidade, da
sua plena confiança em Deus, das suas palavras de sabedoria, fruto da sua
própria experiência e entendimento, da sua totalidade em tudo que faz, do seu
exemplo de vida extraordinariamente comum. E, é claro, também da herança
genética.
Você, um heroi
anônimo, sem medalhas, que enfrentou com aceitação e compreensão tanto os
ventos suaves da vida quanto os hostis, sem apego às alegrias nem rejeição às
dores.
Você, que chegou
nessa total entrega à Vida, com o que Ela lhe deu de mais doce e também de mais
amargo, o que revelou em você a natureza das folhas do coqueiro, que não impõem
suas escolhas ao vento da Existência.
Talvez seja por tudo isso, pai, que hoje, a Paz do Pai sopra através de você.
27/02/2002
ENILDES CORRÊA é Administradora e Terapeuta Corporal. Autora do livro Vida em Palavras.
E-mail: omsaraas@terra.com.br
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