Você deveria transmitir sua alegria, seu silêncio e seu riso a qualquer
um com quem tenha contato. Você não pode dar um presente melhor a seus amigos,
a seus conhecidos, a seus amados, às suas crianças.
Este texto nasce de uma forte,
difícil e intensa vivência que tive ao acompanhar um amigo que veio a falecer,
inesperadamente, há algum tempo, que se tornou uma das maiores escolas da vida
pelas quais já passei.
Constatei e
vivenciei estas palavras dos sábios: “A
vida é curta para ser pequena”. Acordei para o fato de que ficamos fora
dela por coisas tão banais, pequenas e insignificantes; apegos a tantas coisas
supérfluas, que servem simplesmente de estorvos e impedimentos para vivermos
com alegria, bem como para uma partida silenciosa e em paz.
A única coisa
que fica com alguém ao morrer é o conhecimento experiencial de si mesmo, que
abre espaço para a compreensão de si, do outro e da vida como um todo. O
entendimento é eterno. Esse fica. Nada, nem ninguém, o arranca de nós. É o que
vai ajudar na hora do grande parto da forma para a não-forma: a morte.
Ao me dispor a
dar o meu apoio incondicional àquele amigo que não tinha nenhuma pessoa de
laços sanguíneos ao seu lado e a quem,
fiquei sabendo através do diagnóstico médico
restava pouquíssimo tempo de vida, vi o imenso e sagrado valor dos
pequenos gestos de cuidado, amizade e humanidade, independentemente de quaisquer
ligações familiares.
Entretanto, confesso que
acompanhá-lo naqueles momentos cruciais não foi uma tarefa fácil. A princípio, senti o peso dessa
responsabilidade nos meus ombros. Depois, tranquilizei-me ao recordar das
palavras de Kiran Kanakia, durante satsang na Índia: “Quando
confiamos na Vida, Ela toma conta”. “Quando você coopera com a Vida, a Vida
coopera com você”. “Diga sim à Vida, aceitando-A como Ela é”.
Vi a verdade
dessas palavras aparecer na forma de verdadeiros milagres naquele quarto de
hospital, lado a lado com cada dificuldade enfrentada, como também destas
outras: “Amor é o remédio”. Vivenciei que o amor é a força mais poderosa do
Universo, neutraliza e vence qualquer
tipo de reação, por mais intensa e danosa que seja.
Procurava
transmitir ao meu amigo um afeto fraterno, através do meu olhar, do meu toque,
da minha presença. Segurar suas mãos nos momentos em que ele sentia medo e
sofria do mal-estar dos efeitos colaterais da forte medicação a que estava
sendo submetido, tocar sua testa, seus pés ou outras partes do corpo onde eu
percebia que precisava de mais vitalidade acalmavam seu sistema nervoso,
deixando-o mais tranquilo, lúcido e consciente.
Seu corpo
respondia de forma surpreendente ao toque que recebia das mãos, carregadas da
mensagem de aceitação e acolhida da sua pessoa do jeito que era, com seu lado
positivo, fácil de lidar e com seu lado reativo e mais difícil de aceitar. Essa
qualidade, impressa no toque e no olhar, tem uma força de vida que às vezes nem mesmo
os melhores medicamentos conseguem proporcionar.
Uma grande
integração na minha profissão de terapeuta corporal se deu naquele ambiente de
hospital. Foi uma das mais valiosas aulas que a Existência me deu sobre a
importância, a profundidade e a amplitude de um simples toque humano.
O toque
que traz uma presença amiga, permitindo a alguém se sentir acompanhado e sair
do estado de solidão e desamparo. O toque que vivifica a força interna, que nos
faz sentir que nem tudo está perdido: é possível confiar e esperar pelo melhor,
seja lá como for e onde for. O toque que transforma ansiedade, medo e angústia
em tranquilidade e confiança. O toque que ajuda a reorganizar o caos emocional
e possibilita-nos ver com mais clareza e caminhar com mais segurança. O toque
que nos ajuda a abrirmos o coração e a comungarmos uns com os outros.
Desejei,
ardentemente, que todos os contatos entre os seres humanos, em qualquer âmbito,
fossem permeados por essa qualidade do vivo, da aceitação, da acolhida e do
respeito recíproco de uns pelos outros. Oxalá todos ao nascer pudessem ser recebidos
neste mundo por uma infinidade de mãos amigas! E que, ao partir, levassem
consigo a lembrança e o calor de um adeus dado nem que seja por uma única mão
amiga.
Infelizmente,
não é essa a realidade, principalmente a dos hospitais. Vi consternada vários
médicos jovens, ainda em início de carreira, gabando-se de sua indiferença
diante da morte. Ao observar tais atitudes, refleti sobre que tipo de formação
as escolas de Medicina do Ocidente oferecem aos seus alunos.
Se a morte for banalizada, que
dirá o cuidado com a vida! Vida esta que os “humanos” estão quase conseguindo
dizimar. E, diante da insensibilidade e indiferença de muitos, quantos partem
sem sequer uma pessoa do seu lado para dizer: “Vá em paz, que Deus o
acompanhe”. E quantos nascem sem alguém que os bendiga e diga: “Seja bem-vindo,
viva em paz, seja feliz e que Deus o abençoe por toda a sua existência!”.
18/02/2002
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