“Da íntima natureza de cada homem é que nasce o seu motivo de agir: o homem é aquilo que ele ama: o que o homem é, é isso que ele crê, e com isso se identifica”. (cap.17 – Bhagavad Gita)
Entretanto, esse comportamento é uma faca de dois gumes, que fere, em primeiro lugar, a própria pessoa na dimensão do invisível, na dimensão espiritual. Há leis da vida a que ninguém escapa de seu cumprimento. Aqueles que se esquecem e tentam negar a sua essência, ficam distantes de si mesmos, do outro, da Vida e de Deus. Caminham na mão do mundo, porém na contramão da Existência.
Há pouco tempo, estive no gabinete
de um gestor público para apresentar-lhe o trabalho que realizo na área de Humanização
da Convivência. Ao entrar em sua sala e sentar-me, para minha surpresa, constatei
a visível diferença entre a altura de sua ostentosa cadeira e das que foram
colocadas aos visitantes. A sensação que senti foi
de estranho desconforto, e logo percebi que a postura daquele gestor estava
em total concordância com a diferença das medidas de altura das cadeiras...
Como acontecerá o encontro com o
outro se não houver o encontro dos olhos? Os que olham e tratam o outro
pelo véu da ilusão da superioridade e da separação ficam privados da visão da rede de unidade em tudo e
em todos que nos cercam. Não reconhecem que a vida é sinônimo de mudanças e o poder efêmero... Como são plenas de verdade estas palavras ditas por papai:
A vida é como uma roda e a roda gira. Quem está em cima desce e quem está em baixo sobe.
A gente não se desfaz, não desfaz da vida nem dos que têm a vida. De repente, na hora de uma passagem estreita como a morte, você poderá precisar de alguém que desprezou e ignorou... Nós não sabemos nada sobre o dia de amanhã nem sobre os Mistérios da Vida.
Papai foi um homem simples do
campo, que amava sua profissão de pecuarista e realizava seu trabalho com amor, dedicação e honestidade. Com a consciência desperta, expressou no seu
jeito de viver muita sabedoria, inalcançável pelos “poderosos” cheios de si e vazios do contato e do encontro com o próximo. Que preferem cercar-se
de assessores, em grande parte, fracos e bajuladores, que nem sempre cumprem a
tarefa básica de exercer suas atividades com competência e eficácia.
Em Brasília, entrevistei o senador Pedro Simon e a ex-candidata
à Presidência da República, Marina Silva. Que diálogo inspirador e encantador
nós tivemos! Eles, que são ícones da política brasileira, permaneceram acessíveis
e receptivos... As pessoas que manifestam uma diferenciada força interior são
as que não se perderam de si mesmas e mantêm uma forte e saudável ponte de
conexão consigo e com seu entorno.
Reporto-me a esta passagem da vida de Abraham Linconl, narrada
por Osho:
Neste momento, lágrimas de emoção também enchem os meus olhos pelas recordações que as linhas e entrelinhas deste texto suscitaram-me em relação ao meu pai. Desfilam ainda pela minha memória lembranças de várias pessoas que, afortunadamente, fomos espelhos limpos e transparentes um para o outro. Isso nos oportunizou enxergar e reconhecer a nossa melhor parte, divinizou a nossa convivência e tornou-a um presente de Deus.Quando foi eleito presidente dos Estados Unidos, no dia de sua posse no Congresso, alguém se levantou e disse-lhe: “Linconl, antes de começar o seu discurso, não se esqueça que você é filho de sapateiro”. E acrescentou ainda: “E estou usando um sapato feito por ele”. O Senado todo riu. Queriam insultá-lo e humilhá-lo, já que não conseguiram derrotá-lo. Porém é muito difícil humilhar um homem como Linconl. Mas Linconl respondeu com extrema serenidade:
“Estou tremendamente grato por você ter me lembrado de meu pai, que está morto. Nunca vi um sapateiro semelhante. Era único, era um criador porque amava fazer sapatos. Eu procurarei ser um presidente tão bom quanto o sapateiro que ele foi. Ao que me consta, meu pai sempre fez os sapatos de sua família, se os seus sapatos apresentarem algum problema, você pode trazê-los e eu os consertarei. Desde cedo, aprendi a consertar sapatos e agora que meu pai está morto posso cuidar dos seus. Aliás, se algum de vocês tiver um sapato feito pelo meu pai que esteja precisando de conserto pode trazer para mim. Mas de uma coisa estejam certos: eu não sou tão bom quanto ele, seu toque era de ouro”. E os seus olhos encheram-se de lágrimas ao lembrar-se de seu pai.
Namastê! (o Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em você)
18/06/2011
BENEDITA ENILDES DE CAMPOS CORRÊA
é Administradora e Terapeuta Corporal Ayurveda. Profª. de Yoga. Ministra
seminários vivenciais a organizações governamentais e privadas na área de Humanização da Convivência. Autora do livro Vida em Palavras. E-mail: omsaraas@terra.com.br
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