Compromisso com a Vida



Atualmente, testemunhamos as inquietantes alterações climáticas originadas pela interferência humana, que colocam em risco a qualidade de vida das gerações vindouras. De acordo com informações oficiais, a capacidade da atmosfera de absorver a emissão de gases está se exaurindo. Por outro lado, a lentidão das ações dos governos, empresas e sociedade, de forma geral, pouco contribui para frear o ritmo acelerado do desequilíbrio na natureza.


Movida pela atenção a esse tema, entrevistei, em Brasília, a senadora Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, reconhecida mundialmente como uma das valorosas defensoras da ecologia. Eis parte da sua mensagem:

Estamos vivendo num mundo de insegurança, porque nos estabelecemos em cima de uma certa previsibilidade. Em relação a quê? Os ciclos da natureza tinham uma certa previsibilidade: período chuvoso, de estiagem, de calor, de frio. Neste momento, começamos a viver uma certa imprevisibilidade. Fenômenos que aconteciam em algumas regiões pararam de ocorrer e regiões que não tinham aqueles fenômenos começaram a manifestá-los. E algo que está acontecendo em função de fenômenos desalojadores é que já temos milhões de pessoas como refugiados ambientais, as quais têm que ser deslocadas de seus territórios porque estes estão se tornando completamente hostis.  
Antigamente, as preocupações com segurança eram terrorismo, violência, guerra. Hoje, você tem que viver a questão da insegurança por causa dos avassaladores fenômenos naturais de furacões, de enchentes e de outros fatores que, num curto prazo, deixam as pessoas meio estupefatas, chocadas, sem reação. Isso leva a uma consciência difusa, mas não se traduz em ações e em uma mudança de atitudes.
É muito fácil assistir aos problemas como se você não estivesse dentro deles ou como parte da sua resolução. Estamos vivendo uma cultura de espectadores, não? Somos espectadores na frente da televisão, assistimos ao espetáculo do sofrimento, às vezes, da desgraça, da beleza, mas sem envolvimento e comprometimento. 
Então, é hora da assumirmos compromissos. Temos compromisso com a nossa casa, com a nossa família, com os nossos interesses de educar os filhos, de ter um trabalho. Mas, em relação a cuidar da nossa casa comum, muitos não querem ter compromisso. É necessária uma mudança de atitude de cada um para ajudar a resolver o problema. 
Estamos em um período de eleições. Cada indivíduo, por mais simples que seja, pode fazer uma escolha. Mas as pessoas poderão continuar escolhendo aqueles que não têm compromisso com essa agenda e com essas mudanças ou elas podem usar esse direito de escolha para verificar quais são aqueles candidatos que estão comprometidos com esse outro olhar. 
Quando a sociedade passa esse sinal para os governantes, dificilmente eles vão na contramão daquilo que ela está querendo. Porém, quando a gente não dá esse sinal muito claramente, eles acabam indo pelo caminho mais rápido, porque o caminho mais estreito é aquele que dá um pouco mais de trabalho. Você tem que ser seletivo, confrontar interesses e, às vezes, as pessoas têm dificuldades em contrariar determinados interesses. 
O comprometimento, essa visão de compromisso, se dá em todos os níveis. Cada um no espaço em que pode ser efetivo. Se a minha efetividade é com o meu voto, vou ter que fazer uma boa escolha com ele. Se a minha efetividade é cuidando bem do lixo para que ele não caia no rio, no igarapé, então vou cuidar bem do meu lixo.  
Mas vamos assumir o compromisso de sermos efetivos em relação àquilo que está acontecendo e não ficarmos como expectadores do que está acontecendo e sem nenhuma efetividade. É preciso um compromisso envolvido, que sejamos acolhidos naquilo que é a nossa contribuição efetiva.
A mensagem da senadora Marina reforça a necessidade do engajamento de todos os indivíduos no cuidado e na responsabilidade para com o meio ambiente, a nossa casa comum. Mas sabemos que, para isso acontecer, tem que haver uma revolução na Educação em todo o planeta, que priorize não só o conhecimento intelectual, mas que inclua um trabalho voltado para a expansão da sensibilidade e da consciência do homem. 

E, como estamos em um período eleitoral, vou torcer para que sejam eleitos pelo menos alguns representantes políticos que exerçam o mandato com consciência ao invés de “conveniência”. Que não se contaminem pela poluição existente em tão larga escala na política brasileira e façam das suas funções, no poder Legislativo ou Executivo, um sacerdócio, honrando os seus mandatos diante de si mesmos, da sociedade e de Deus. 

Setembro/2008.

BENEDITA ENILDES DE CAMPOS CORRÊA é Administradora e Terapeuta Corporal  Ayurveda. Prof. de Yoga. Ministra palestras e seminários vivenciais a organizações governamentais e privadas. Autora do livro Vida em Palavras. E-mail: omsaraas@terra.com.br

Comentários