Paz e guerra interior: quem está olhando para isso?


                                                                                   
"Se você quiser relaxar, seja amigo de si mesmo. Chega de ódio. Por que nós nos odiamos sem entender? Em que erramos? Se entendermos em que fomos errados, será muito fácil entender o que traz a correção."   
"Entenda como viver, como estar em harmonia, como estar em equilíbrio, como estar em sintonia. Uma vez que você compreende como estar em sintonia, a vida se torna uma dança." 
Kiran Kanakia  
É preocupante a onda de violência dos dias atuais, principalmente nos centros urbanos. A população sente-se amedrontada e cobra das autoridades competentes soluções urgentes que resolvam os problemas de segurança pública e possam restabelecer, imediatamente, a ordem um tanto quanto ameaçada. Enquanto isso, bem poucos assumem a responsabilidade individual pela criação de uma sociedade mais saudável e pacífica. 

A conclusão à que se chega, após uma análise do contexto atual, é de que a sociedade, de forma geral, está doente. A explosão já sem controle da violência, bem como a degradação do meio ambiente, revelam essa verdade incontestável por quem quer que seja. Criticamos os políticos pelo descompromisso com a questão social, ambiental, com a segurança, entre outras, mas, por outro lado, eles são reflexo dessa nossa sociedade desestruturada e desamorosa, que tem apresentado um perfil muito mais de inimiga do que de amiga da vida. 

Houve grande avanço tecnológico no mundo contemporâneo, porém não foi seguido de elevação no nível de consciência da humanidade. A consciência ficou para trás. E os resultados estão ai: ódio entre as nações, intolerância religiosa, racismo, violência urbana e rural, degradação do meio ambiente, corrupção política. Exemplos não faltam... 

A sociedade é composta por pessoas. O desequilíbrio que vemos fora é resultado do desequilíbrio interno dos seres humanos que a compõem. Tudo na vida é contagioso, a vibração de paz ou de desarmonia de uma única pessoa. Se queremos uma sociedade pacífica, um dos passos fundamentais deve ser dado dentro de cada pessoa, na conquista da paz interior. Dessa forma, poderemos criar um ambiente que favoreça a expansão da paz ao invés da violência. 

É muito simples e fácil ver a violência externa, apontar culpados lá fora e nos eximir de toda e qualquer responsabilidade nesse processo. A dificuldade maior é nos recolhermos e termos a disposição de ir para dentro de nós mesmos, olhar e investigar o caos interno. 

Infelizmente, quase ninguém tem interesse e coragem para olhar e assumir seus desequilíbrios, suas fraquezas e a violência, que em maior ou menor grau carrega dentro de si, reprimida ou não. E, sem aceitar e assumir o nosso desequilíbrio, torna-se difícil o retorno ao estado de harmonia. Se eu me negar a olhar o meu descompasso, não será possível intervir naquilo que está fora do prumo. Isso tem que ser compreendido. 

O combate e a prevenção com relação à violência terão que ter, obrigatoriamente, mão dupla, uma via externa e outra interna. Não basta só desarmar a população, por exemplo. Há que se procurar diminuir, também, o nível de agressividade dos indivíduos e desarmá-los internamente, caso contrário recolhem-se as armas hoje e as pessoas vão se armar amanhã, pois a causa do distúrbio (que é interna) não foi solucionada. 

Para curar a sociedade, seria necessário tratar das pessoas em nível mental, investir maciçamente em saúde mental. Caso contrário, como controlar o desequilíbrio e a insanidade das pessoas, sendo que a nossa própria sociedade, do jeito que é, contribui para a formação desse quadro? Como e com quem fica essa parte, talvez a mais difícil de ser resolvida, do problema da violência? 

A situação atual em relação à escalada da violência requer um olhar amplo e profundo em várias direções por parte das autoridades, dos vários segmentos da sociedade, e também de todos nós, cidadãos comuns, começando por compreender e tratar a agressividade e a insanidade presentes em cada um. 

Essa valiosa contribuição todo indivíduo poderia e deveria se dar, e também à família, à sociedade e à vida. Essa iniciativa em direção à paz está ao alcance de todos. 

ENILDES CORRÊA é Administradora e terapeuta corporal Ayurveda. Ministra seminários vivenciais a organizações governamentais e privadas na área de Qualidade de Vida e Humanização da Convivência. Autora do livro Vida em Palavras.  

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